BLOG DO SOUL
domingo, 17 de janeiro de 2016
AS CONEXÕES IMPREVISÍVEIS DA VIDA E BLOGS NOTÁVEIS
Olá, colegas! Espero que estejam todos bem. Minha estada na Tailândia que deveria durar duas semanas já passa de um mês e ainda devo ficar mais algumas semanas. Muito bom estar por aqui. Neste artigo, entretanto, escrevo sobre como um comentário de um Anônimo, que se identificou como Victor, fez-me revisitar alguns estudos, ler muitos outros e criar um contato muito maior com blogs realmente notáveis.
Na magnífica cidade histórica de Sukhothai (primeira capital do que se pode chamar culturalmente de Tailândia há 700 anos). O espetacular Buda leva o nome de "Subduing Maya". Mais explicações abaixo
Isso é muito interessante mesmo. Como um comentário em uma postagem pode ser o catalisador de algo bacana. A vida muitas vezes, talvez na maioria das situações, opera por “caminhos misteriosos”. É simplesmente impossível saber o que vai ou pode ocorrer com nossas vidas, e o controle é simplesmente uma ilusão, algo maravilhosamente retratado na cena do acidente da bailarina no estupendo filme “ O Curioso Caso de Benjamim Button”. A mesma temática é mostrada de forma muito assaz no filme “Instinto" com Antony Hopkins. A cena dele ameaçando tirar a vida de um psiquiatra se o mesmo não respondesse qual ilusão ele tinha acabado de perder é fantástica. O conceito de Ilusão - Maya - é central para o Budismo e qual não foi a minha surpresa ao ver um shopping luxuoso com nome de Maya na cidade onde atualmente estou no norte da Tailândia: Chiang Mai. Não deixa de ser interessante colocar um nome como esse em um dos lugares que mais promove a ilusão no mundo contemporâneo.
Esse filme tem uma cena sublime (sempre me emociono), quando ele é capturado no meio dos Gorilas e um deles morre.
Esse é um belo filme. Há muitas cenas interessantíssimas. Uma das que mais me fazem refletir é a da cena do acidente e a cadeia de eventos completamente fora de controle que levou ao incidente. Uma reflexão bem parecida é feita no clássico livro "A Insustentável Leveza do Ser".
Outro anônimo, o qual eu agradeço também, enviou link para ver o famoso discurso de Jobs para os formandos de uma universidade de ponta nos EUA. O discurso é simplesmente brilhante. Muitas das falas me chamaram a atenção. Uma delas é quando Jobs disse que largou o curso regular na faculdade, pois custava muito dinheiro, e a poupança dos seus pais adotivos (eu não sabia que ele era adotado) estava sendo dilapidada por algo que ele não conseguia ver sentido. Ele começou então a literalmente “zanzar" pela universidade fazendo alguns cursos gratuitos. Um deles foi de Caligrafia. Sim, o gênio que revolucionou a forma como relacionamos uns com os outros no mundo moderno fez um curso de Caligrafia. Ele disse no discurso que algo que aparentemente não tinha qualquer relação, ou algo “útil" na vida prática moderna, foi o que mostrou para ele a importância da beleza e da estética. Foi por causa disso que ele se tornou tão obcecado com a aparência estética dos dispositivos da Apple, o que viria a revolucionar a informática e muitas outras coisas.
Pensem sobre isso, colegas leitores. O Design de seu smartphone, se eventualmente você possui um, talvez tenha ocorrido porque uma pessoa fez um curso de Caligrafia. Logo, é simplesmente impossível saber as consequências ou relações do que eventuais eventos em nossas vidas podem ter no futuro. Desconfie de pessoas que ridicularizam a teoria ou práticas “não muito úteis” (na perspectiva única e pessoal delas) dando uma ênfase quase que absoluta à “prática" (seja lá o que essas pessoas possam definir o que seja “prática”). Se, enquanto espécie, dependêssemos delas, teríamos uma vida muito, mais muito mais pobre em todos os sentidos. Não teríamos, com absoluta certeza, alcançado o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e humano que temos hoje em dia.
Assim, de uma maneira quase “serendiptosa”, um simples comentário de um anônimo me levou a leitura de dezenas de artigos, a feitura de diversos textos (em processo de escrita) e a criação de um novo blog (em construção com a ajuda do colega Estagiário). “Ok, Soul, sobre o que foi esse comentário, foi sobre o sentido da vida ou se há vida após a morte?”. Há uma cena que acho muito engraçada no filme “A Vida Secreta de Walter Mitty”. Como dizem os americanos “to make a long story short”, o filme tem como enredo a busca desesperada do protagonista na procura de um negativo de uma foto que deveria ser supostamente a última capa da edição impressa da revista Life. Depois de muitas aventuras em volta do mundo, numa busca que se torna interior também, Walter Mitt descobre o negativo. Como a empresa está fazendo downsizing, ou seja despedindo quase todo mundo, há uma cena no elevador onde um dos seus companheiros de trabalho pergunta sobre o que tinha ma foto “Era por acaso a imagem do Pé-Grande ou do Mostro do Lago Ness?” querendo significar que uma busca tão intensa por algo, esse algo só pode ser uma coisa “grandiosa”. Fiz essa breve digressão apenas para que a pergunta de um leitor imaginário pudesse ser melhor entendida e para que assim pudesse ser um pouco engraçado. Aliás, o humor é essencial para que uma sociedade se mantenha saudável. Os Judeus faziam piada até mesmo sobre o seu destino trágico no holocausto conduzido pelos Alemães. Uma sociedade que perde a capacidade de ter humor ou que se ofende facilmente com brincadeiras sobre suas instituições, moralidade, religião, ética, etc, é um agrupamento humano com uma grande propensão a uma vida pior. Isso, evidentemente, também vale para indivíduos.
Cena do filme onde Walter Mitty descobre que há um negativo faltando na presença de seu colega de trabalho. Será que o comentário que aludo nesse artigo foi sobre algo extraordinário na vida?
Não, o comentário não foi sobre a Teoria M (que tenta unificar os campos da gravitação e física quântica, o Holy Graal da física contemporânea), ou sobre como gerar Alpha (o sonho de qualquer investidor), mas foi simplesmente a indicação de um blog americano chamado Brave New Life.
Eu irei, muito provavelmente no meu novo blog, falar muito sobre esse Blog e mais outros dois, principalmente focar nas diversas questões interessantes que eles abordam. Na bem da verdade, muitos dos temas ali tratados já foram objeto de reflexões aqui nesse espaço, mas é inegável que os blogs em questão falam de forma muito mais direta sobre assuntos de muito interesse a todos investidores amadores, cidadãos e seres humanos preocupados com a sua posição no mundo em geral.
O mais antigo chama-se Early Retirement Extreme, também conhecido pele acrônimo ERE. Como o nome diz, trata-se de independência financeira de forma muito rápida. O autor arrepende-se um pouco de ter colocado o termo “retirement” (aposentadoria), pela conotação que a palavra representa na sociedade. As palavras e os sentidos que elas tem em um determinado agrupamento humano contam e muito. É uma área do conhecimento humano que gosto bastante, mas não irei me estender aqui. O blog iniciou-se em 2007 e é um dos pioneiro no assunto na internet. O autor, Jacob, é um Dinamarquês que mora nos EUA, se entendi corretamente, que largou a profissão de físico profissional e hoje em dia vive financeiramente independente vivendo com menos de U$ 10.000,00 por ano.
O autor do Blog escreveu um livro. Pretendo lê-lo quando tiver oportunidade;
O Blog indicado pelo comentário é o Brave New Life. É a história de um engenheiro e a sua jornada de auto-conhecimento que o levou de forma sistemática a desistir de um emprego de U$ 170.000,00 anuais (sim R$ 700.000,00 por ano) para viver com sua família de dois filhos com um orçamento em torno de U$ 30.000,00 anuais. O interessante é que a história dele em muitos aspectos se assemelha a minha. Ele tem 35 anos, durante os primeiros 10 anos de sua vida profissional teve uma alta taxa de poupança (muito semelhante a minha) sem saber muito o que fazer com isso, até que uns cinco anos atrás a ficha de muitas coisas começou a cair e a sua compreensão do mundo, sua vida, e o que ele realmente acha uma boa vida alargou-se de uma forma fantástica.
Por fim, o terceiro blog é o já clássico MMM, ou também carinhosamente conhecido como Mr. Money Mustache. Ele se “aposentou" com 30 anos de idade, como ele está atualmente com 40 anos, há uma década ele goza de independência financeira. A forma dele abordar diversas questões é simplesmente fantástica. Ele, se não me engano, trabalhou como Engenheiro, exatamente como o Brave New Life. Há artigos muito interessantes. A forma como ele discorre sobre a Taxa Segura de Retirada é muito boa mesmo. O artigo que ele trata sobre Margem de Segurança, e suas diversas camadas protetivas, é como eu vejo a questão de independência financeira em meus modelos mentais, mas ele conseguiu traduzir isso em palavras, o que foi algo bem interessante. O texto que ele aborda sobre a ilusão da segurança era algo que eu estava a beira de escrever nesse espaço e devo fazê-lo em um dos diversos artigos que irei tratar sobre Taxa Segura de Retirada e Independência Financeira. Hoje de manhã, li o artigo onde ele fala que apego à luxo é apenas uma fraqueza humana, algo com o qual concordo plenamente, e já tratei do tema de forma indireta diversas vezes nesse espaço. Ter um sentimento de dependência ao luxo é a mesma fraqueza de ser dependente de uso de substâncias químicas legais ou não.
Mr. Money Mustache: belo bigode!
O nível desses três blogs relatados é muito alto, algo que não se encontra muito por aqui. Infelizmente, eles são escritos em língua inglesa,e talvez isso afaste uma grande maioria de leitores brasileiros que possam ter dificuldade em ler textos em Inglês. O nível dos artigos, na maioria, é bem alto. Os comentários dos leitores, principalmente no MMM, são bons e às vezes muito instrutivos. Faço questão de ler todos os comentários, e muitos artigos interessantes de outros sites foram recomendações dos comentários. Os autores não caem em contradições lógicas banais, como muitas pessoas no Brasil atualmente o fazem, bem como sabem escrever de forma clara e precisa, e saem dessa lógica preguiçosa intelectualmente entre "bons x maus, direta x esquerda", ou qualquer "Fla-Flu ideológico" que a sociedade brasileira infelizmente está tornando muito comum, sem se dar conta das consequências terríveis de médio prazo que isso pode ocasionar no tecido social. Leitura de alto nível e espero compartilhar alguns pensamentos deles por aqui.
É evidente que o que eles falam não é novo. O MMM, por exemplo, até pouquíssimo tempo atrás não sabia o que era estoicismo, e nem sobre os estóicos. Aparentemente, ter contato com essa forma de pensamento teve uma grande influência em sua vida recente (ainda preciso ler o artigo em específico). Logo, como sempre disse o meu pai, em matéria de sentimentos e paixões humanas não há muito de novo sendo refletido pelos humanos. Entretanto, é inegável que eles - os blogs - trazem uma roupagem mais moderna e acessível para as pessoas, bem como conectam reflexões mais profundas de vida com finanças pessoais, um dos objetivos primordiais do blog pensamentos financeiros.
Encerro o artigo recomendando fortemente a leitura dos blogs em questão para os leitores que podem ler em Inglês. Se a leitura no idioma do grande Escritor não é muito boa, desafie-se um pouco, faz bem para o cérebro. Acaso seja realmente difícil a leitura em outro idioma, prometo que vou tentar trazer muito dos temas abordados por lá para a nossa realidade brasileira. Por fim, coloco o famoso discurso de Jobs. Vale muito a pena assisti-lo, e agradeço novamente o anônimo que enviou o link.
Um discurso cativante, emocionante e inspirador.
Acabo esse artigo embaixo de um coberta na cidade bem pequena no meio das montanhas de nome Pai. Está frio, o que é algo unusual para a Tailândia. No caminho entre Chiang Mai e Pai eu e minha companheira fizemos amizade com um casal de americanos que mora no Alasca. Ele nasceu e cresceu no Havaí. Eu falei só pode estar de brincadeira! Quero morar no Havaí uns meses e quero muito viajar pelo Alasca. Que coincidência. Ele me contou cada história bacana do Alasca, que fez a minha vontade de conhecer essa região apenas aumentar. Comentei sobre o filme “Into the Wild”, e ele já tinha visto várias vezes, assim como eu. Muito interessante encontrar alguém que quando eu falo sobre a cena de um filme específico se lembra da cena em detalhes. Nos conhecemos por algumas horas, mas parecemos amigos que se conhecem há muito tempo. Estamos no mesmo hotel, e é incrível como quando estamos abertos a novas experiências, quando saímos um pouco da “defensiva" e interagimos com outras pessoas, podemos encontrar pessoas bem bacanas pelo caminho.
Essa noite na agradável cidade de Pai. Ela trabalha fazendo Café. Ele é DJ e cozinheiro. Acabou de comprar 2.5 alqueires de terra no Alasca e quer produzir a sua própria comida, bem como construir a sua casa com as próprias mãos. Ao se despedir para dormir, ambos deram um abraço bem forte na gente, algo inusitado para americanos, o que foi bem legal. Como é bom fazer amigos e procurar se dar bem com outras pessoas.
Um grande abraço em todos!
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
TAILÂNDIA - UMA VIRADA DE ANO FABULOSA NA "CIDADE DOS ANJOS"
Olá, colegas! Antes de mais nada, desejo um bom ano novo para todos. Eu, sinceramente, não me impressiono tanto com esse tipo de data. O eterno ciclo de finais e começos é bem conhecido na filosofia oriental, e está presente em muitos conceitos para vários correntes místicas dessa parte do mundo. Nós, ocidentais, até pela nossa raiz cultural e religiosa, não refletimos tanto sobre isso. Porém, parece-me evidente que o final de ano, mesmo que seja um dia como qualquer outro, encarna o ciclo de fim-começo-fim, pois parece ser para muitas pessoas a oportunidade de um novo recomeço, onde todas as esperanças e sonhos podem se renovar, deixando para trás no ano finalizado eventuais frustrações. É claro, como é apenas mais um dia e as pessoas continuam exatamente as mesmas (assim como o mundo), que a esmagadora maioria dos sonhos e esperanças não se concretizarão no ano novo vindouro, mas para isso sempre haverá mais um ano novo, onde ter-se-á mais uma oportunidade para agora sim realizar todos os projetos que alguém eventualmente possa acalentar.
Apesar de não ser um dia especial para mim, assim como o natal também não o é, eu desde jovem sempre compreendi o que significava para a esmagadora maioria das pessoas. São momentos alegres, onde as pessoas gostam de confraternizar umas com as outras, e isso é algo muito positivo, saudável e bonito. Bom seria se todos os dias fossem ano novo ou natal, como o mundo e nossas sociedades não seriam? Uma mudança tão simples de comportamento traria mudanças tão profundas na forma em que vivemos que nenhuma teoria filosófica, econômica ou política conseguiria prever. Logo, essas datas, por esse estado de humor das pessoas, costumam ser interessantes para mim.
O meu ano novo não poderia ser mais diferente . Foi na “Cidade dos Anjos”, também conhecida por nós ocidentais como Bangkok. Já tive a oportunidade de visitar essa cidade muitas vezes, até porque junto com Cingapura e Kuala Lumpur, é um dos maiores hubs dessa parte do mundo. Foco nesse artigo apenas na minha experiência de ano novo nessa fantástica cidade.
Em outras ocasiões já passei a virada do ano em lugares muito inusitados. Como esquecer a vez que estava em Hanói, capital do Vietnã, e os vietnamitas me confundiram com um jogador de futebol europeu famoso. Os vietnamitas são fechados no começo, mas basta abrir um sorriso para eles que eles retribuem com um sorrido ainda maior. Logo, foi um ano novo tirando fotos com inúmeras pessoas que pediam e sorrindo para dezenas, quiçá centenas de pessoas. Ou o final de ano passado no deserto de Thar na fronteira entre Paquistão e Índia (umas das regiões mais tensas do mundo) na presença de um guia chamado Mr. Desert. Tenho um vídeo que é um dos mais legais que eu já fiz, quando o mesmo improvisou uma queima de fogos no meio do deserto. Dormirmos a virada do ano literalmente a céu aberto, no meio de dunas, sendo acordado de noite por um cachorro que vinha nos acompanhando por algumas horas, num dos maiores sustos que já tomei. Ou o final do ano num dos lugares com as praias mais lindas do mundo: El Nido na ilha de Palawan, Filipinas. Tinha feito três mergulhos no dia e meu ouvido estava doendo, a cada explosão de fogo de artifício era um verdadeiro martírio para mim. Ou, mais recentemente, no deserto ao norte do Peru, em Lobitos, um lugar com altas ondas no meio do nada. Enfim, já passei viradas de ano muito interessantes.
Entretanto, esta foi a mais diferente. Primeiramente, o ano novo para os Tailandeses é em abril, pois o calendário deles não é o mesmo que o nosso. Eles estão no ano 2558, não em 2016, já que levam em conta a vida do Buda histórico, não de Cristo. Porém, como é comum em países Asiáticos, eles “adotaram" esse dia como um motivo a mais para comemorar e unir-se com familiares e parentes. As festividades do ano novo Tailandês duram três dias e envolve basicamente reunir-se com amigos, familiares e refletir sobre ações feitas no ano que se passou. Uma tradição interessante é que eles jogam água uns nos outros, no que vira uma grande festa, simbolizando uma forma de purificação.
A “Cidade dos Anjos” geralmente nessa época recebe muitos turistas estrangeiros. A Tailândia é visitada por 20 milhões de turistas estrangeiros por ano, o que é algo notável, pois o Brasil recebe apenas uns 5 milhões, o que mostra como nosso país é mal explorado em muitos setores, sendo o turismo apenas mais um deles. Logo, a festa de final de ano na cidade tem importância turística também.
Eu e a minha companheira começamos a nossa peregrinação noturna pela cidade no dia 31 de dezembro indo para o enclave chinês da cidade, a famosa Chinatown de Bangkok. Já estou muito habituado com esse tipo de lugar. Comidas baratas de rua, várias barraquinhas e muita, mais muita gente. Após comer ostras fritas com uma camada de ovo frito em cima e uma bela cerveja local gelada, começamos a andar em direção ao centro histórico da cidade.
Quando estávamos passando por um dos templos mais sagrados da cidade, e do país, chamado Wat Pho, ouvi cânticos típicos de monges budistas. Eu simplesmente adoro a entonação dessa espécie de canto. Posso fechar os olhos e ficar ouvindo por muito tempo. Resolvi entrar no templo e fui surpreendido com o que vi. Além do templo iluminado de noite ser muito bonito, havia centenas de pessoas sentadas de branco entoando cânticos. Todas estavam com fios amarrados no corpo que por sua vez estavam amarrados numa rede entrelaçada de vários fios acima de suas cabeças.
Percebam que todos estão com fios enrolados a cabeça que por sua vez estão todos conectados em fios esticados no teto num emaranhado de fios que talvez represente que todos nós estamos de alguma maneira conectados. Que mensagem linda, principalmente com tantas pessoas com ódio no coração contra pessoas diferentes, seja por causa de ideias, posicionamentos políticos, orientações sexuais, etnias, ou qualquer outra diferenciação que se possa fazer entre indivíduos que no fundo são apenas e unicamente humanos.
Linda Cerimônia
Essa foto foi tirada uns dias antes, quando por acidente descobri que o Wat Pho ficava aberto de noite e era de graça para visitar. Não havia ninguém e foi uma sensação extraordinária andar nesse templo iluminado sem ninguém (de dia há literalmente milhares de pessoas)
Foi muito bonito ficar um tempo lá apenas assistindo. Minha companheira, no que foi um belo insight, disse-me que talvez as pessoas enroladas nos fios significava que todos na verdade estavam entrelaçados uns aos outros, num conceito que é um dos mais bonitos que eu conheço: o de unicidade. Não sei dizer se ela está correta ou não, apesar de ser bem plausível, mas é uma belíssima explicação.
Saímos do templo e passamos por milhares de Tailandeses. Em inúmeros locais, havia diversas pessoas sentadas e orando, misturadas com alguns estrangeiros sentados ao lado, numa mistura muito bacana de culturas, etnias e religiões (apesar de eu não considerar o Budismo uma religião). Isso para mim foi lindo de se ver, principalmente com tanto ódio existente no mundo em geral e em nosso país em particular.
Countdown Thailand...
Resolvemos então ir para um grande gramado que existe em frente ao Palácio real. Quando chegamos ao local, eu simplesmente não acreditei no que vi. Havia dezenas de milhares de pessoas sentadas, orando, muitas delas com as duas mãos em frente ao coração, uma forma tipicamente Tailandesa de se mostrar respeito e cumprimentar outros. Junto com a saudação japonesa de se curvar o corpo (algo que acho demais e sempre faço quando me despeço de um japonês - outra coisa que aprendi com japoneses é não entregar um objeto com apenas uma mão, mas com as duas mãos), é uma das mais belas formas de interação humana não-verbal que conheço.
Quando olhei essa multidão sentada, de branco, orando e muitos com a mãos perto do coração eu simplesmente não acreditei no que estava vendo.
Coordenando essa multidão havia dezenas de monges num palco montado entoando cânticos. Nossa, foi demais. Quando o ponteiro do relógio marcou meia-noite, eu abracei a minha companheira e desejei feliz ano novo. Percebi que fomos os únicos, muitos continuaram simplesmente na oração. Quando belos fogos sobre o palácio começaram, os monges continuaram entoando cânticos e a maioria da multidão permaneceu sentada acompanhando os monges na cantoria. Foi lindo. Ver fogos iluminando uma das mais belas construções da Ásia, dezenas de milhares de pessoas sentadas entoando cânticos acompanhadas por inúmeros monges, foi algo muito especial mesmo.
Dezenas de Monges no palco (talvez tivesse mais de cem) entoando cânticos. Eu não consigo compreender nada, mas eles são tão belos e trazem uma grande serenidade para mim.
Fogos no Palácio Real ao fundo. Uma grande noite e um grande momento, sem dúvidas. Uma excelente experiência.
Ficamos por um tempo e resolvemos voltar para o hotel. A rua onde ficamos em Bangkok, gosto muito de ficar nesse local, é do lado da famosa Khao San Road, conhecida como o coração Backpacker de toda a Ásia. A primeira vez que vi a mistura de estrangeiros, insetos fritos, barulho, cheiros, locais oferecendo shows de mulheres, massagens sendo feitas na rua, etc, etc tudo ao mesmo tempo, foi algo extraordinário. Hoje em dia, ela não me atrai mais tanto. Nunca tinha visto a Khao tão cheia. Apenas estrangeiros, quase todos jovens, bebendo cerveja, ou qualquer outra droga alcóolica (não era nem duas da manhã e vi inúmeras garotas passando mal), dançando eletrônico. Foi como ir de um oposto ao outro. Ficamos algum tempo, na verdade para atravessar a extensão de toda rua demoramos uns bons 30 minutos e fomos dormir, felizes com mais uma grande experiência vivida.
É isso, colegas. Grande abraço a todos!
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
ZONA DE (DES)CONFORTO
Olá, colegas. Espero que estejam todos bem. Escrevo nesse artigo sobre a nossa zona de conforto. O que é isso? Muitos já devem ter ouvido falar dessa expressão, e talvez boa parte desses muitos já tenha se questionado se não é hora de “desafiar a própria zona de conforto”. Basicamente, entende-se como “zona de conforto” toda situação a qual um ser humano se sente habituado a ela, e mais importante seguro dentro dela. Se eu vivo dentro de um país que fala minha língua nativa, podemos considerar essa situação uma zona de conforto principalmente se eu considerar a hipótese de ir morar em outro país com idioma diverso. “Soul, mas alguém que não é feliz vivendo aqui, não estaria numa zona de “desconforto?”, entendo que sim, e pretendo chegar lá em poucos parágrafos.
Qual é o problema de se sentir familiarizado e seguro com algo? Nenhum, caros leitores. Em certa medida isso é uma característica biológica nossa enquanto espécie. Logo, sentir-se bem numa situação confortável é algo natural e humano. Entretanto, e assim é a vida, muitas coisas extraordinárias apenas ocorrem quando nos colocamos em situações desconfortáveis, ao menos num primeiro momento. Quando nos sentimos muito confortáveis com um relacionamento, com um trabalho, com um estilo de vida, há uma tendência natural de esquecermos, ou ao menos perdemos o interesse, em outras formas alternativas de relacionamento, trabalho ou estilo de vida. E qual é o problema com isso? O maior problema é que às vezes nos esquecemos o quão diverso e complexo é o nosso mundo, e que outras realidades poderiam ser tão ou mais “confortáveis” do que a realidade vivida dentro de uma zona de conforto.
Pensemos no primeiro ato de nossa vida que é nascer. Creio que não podemos saber o que se passa na cabeça de um nascituro quando ainda está no ventre da sua mãe. Porém, uma criança com 8-9 meses de gestação já é indubitavelmente um ser humano. Dentro da sua mãe, a realidade é extremamente confortável. Eu imagino o choque que deve ser para uma criança ao sentir a luz pela primeira vez, o ar, um ambiente externo gigantesco. Talvez por isso haja todo um debate hoje em dia de como um parto poderia ser mais “humanizado”. Nosso ato ao nascer é uma saída de uma zona de conforto e nos primeiros momentos deve ser extremamente desconfortável. Porém, se estou escrevendo esse texto, se estou numa ilha da Tailândia, se tenho prazer em comer um sashimi, tudo isso é derivado do meu ato de nascer, de um ato de extremo de desconforto.
A primeira zona de conforto, talvez a maior de todas, deve ser enfrentada por qualquer ser humano que venha a existir.
Isso, a existência de todas as possibilidades pelo fato de estarmos vivos derivada de um ato de saída de uma “zona de conforto”, deveria ser sempre um alerta para nós humanos de como coisas maravilhosas podem existir quando ousamos dar um passo fora do nosso mundo conhecido. O mundo é vasto, ele é imenso mesmo. Podemos pensar sobre isso de forma abstrata, mas essa realidade só se torna tangível quando olhamos por nós mesmos. As formas que as mais diversas pessoas vivem suas vidas são inúmeras. Logo, o lugar onde moramos, a forma como expressamos nossas opiniões e sentimentos, o trabalho que realizamos, as pessoas com quais interagimos no dia a dia, tudo isso é apenas uma fração muito pequena da realidade, é apenas uma maneira de viver a vida dentre tantas outras possíveis.
As diversas “zonas de conforto” podem nos levar sim a paralisia e a ignorarmos tantas coisas bonitas, e feias também, que a vida e o mundo podem nos oferecer. Este e um grande problema, ou melhor dizendo uma grande perda de oportunidade. Entretanto, não é a maior delas. Uma coisa é realmente se sentir bem com a vida que se leva, outra é estar numa zona de “desconforto”, mas por receio, medo ou ansiedade ficar preso numa forma de existência que não nos traz bem-estar.
O trabalho por exemplo. Posso estar infeliz, seja porque se ganha pouco ou porque não se encontra sentido no que faz, ou uma mistura de ambos. Entretanto, largar o emprego é uma atitude arriscada, “e se der errado?”. Estudar para fazer um concurso público, ou para se aprimorar na área, ou para mudar completamente de campo de conhecimento é desconfortável no início. Envolve talvez deixar de ver televisão, ler blogs, abrir mão de algumas coisas. Apenas a visão do esforço necessário para desafiar a situação atual de vida pode ser uma corrente que deixa a pessoa presa. Porém, estudar novos assuntos, se deparar com novos livros, novas formas de pensamento, por mais desconfortável que seja no começo, sempre será algo maravilhoso e muito provavelmente engrandecedor para a pessoa que se esforça nessa direção.
A nossa saúde. É difícil muitas vezes largar alimentos nocivos e altamente viciantes. Fast food é muitas vezes comparado com cocaína, pois possui efeitos no cérebro muito parecidos no que toca ao mecanismo de satisfação e recompensa. Por isso, realmente é difícil do ponto de vista lógico fazer uma distinção, do ponto de vista dos malefícios para o ser humano, tão profunda entre um traficante de drogas e um vendedor desse tipo de comida para o público infantil, por exemplo. Tratei desse tema ao falar de sucesso financeiro, e vi que é algo que toca profundamente as pessoas, e não pretendo me alongar mais uma vez nesse tema. Logo, assim como é difícil largar o cigarro, é difícil largar a “zona de conforto” do sendentarismo e da má alimentação. Na verdade, é desconfortável mesmo, sendo que dependendo do estágio de intoxicação alimentar (e fico abismado como isso está se espalhando feito uma doença em nossa sociedade), o nosso corpo irá estranhar uma alimentação mais saudável.
Na verdade, os exemplos dados do trabalho e alimentação representam uma zona de desconforto. A pessoa se sente habituada e segura com algo, mesmo que essa situação não traga bem-estar para a mesma. A segurança e estabilidade é algo muito forte nas pessoas, mesmo que seja uma estabilidade e segurança de uma situação ruim. Não é à toa que dizem que o mercado financeiro prefere uma certeza ruim, a uma situação de incerteza. Não fomos criados para lidar com a incerteza, apenas com certezas. Também não é de se estranhar que muitas pessoas no Brasil enxergam o serviço público com brilho nos olhos. Porém, o incrível, é que o mundo é formado de incertezas, e até no nível fundamental da matéria jaz um cânone que se chama Princípio da Incerteza (também já tratado nesse blog, princípio da incerteza e a precipitação dos seus investimentos).
O meu exemplo pessoal. Eu, no Brasil, vivia numa zona de absoluto conforto. Ao olhar um pen drive que trouxe na viagem para consultar o meu IR, não olhava o conteúdo desse dispositivo há quase nove meses, vi umas fotos do meu apartamento. Tomei até um susto. Falei com a Sra. Soulsurfer algo como “mas esse apartamento é muito confortável, é quase luxuoso”. Depois de dormir cinco meses num carro, e trocar de pousadas, Hostels e guesthouses dezenas de vezes, ficando em quartos simples, olhar a foto da minha sala foi algo muito diferente.
Tenho que confessar que às vezes sinto falta de deitar neste sofá e ficar assistindo algum filme. Ou sentar na varanda e olhar as dunas e a natureza. Pensei em vender esse apartamento, mas é bom ter um porto seguro para chamar de casa, principalmente quando é um lugar que se sente bem. Por outro lado, olhar essa foto apenas me fez perceber o quão privilegiado eu sou, bem como que não preciso de tudo isso para ser satisfeito com a minha vida.
É evidente que não preciso disso tudo para viver bem e feliz. Por outro lado, é bom saber que quando quiser retornar ao Brasil poderei voltar para algo tão confortável. O meu apartamento além de tudo é grande. Tem vista para o verde, mar, dunas. Fica a cinco minutos andando de uma praia com altas ondas, por uma trilha que passa por meio de vegetação e dunas grandes, e quando não é temporada pode se andar sozinho pela praia. Uma das coisas que mais gostava de fazer erra correr de manhã e tomar um banho de mar numa praia quase vazia. Conheço todos os vizinhos, sou amigo de muitos e me dou bem com quase todos. É uma rua sem saída, então não tem trânsito, o final da rua é uma mata fechada que começa o início da trilha para a praia. Mais zona de conforto do que isso, para o estilo de vida que gosto, é difícil. E olha que já morei na Califórnia e rodei por muitas cidades na costa da Austrália (cito esses exemplos específicos, pois em certa medida são parecidos com a minha cidade), e não sei se trocaria pelo lugar onde moro.
Comida. Como sinto falta da comida brasileira. Todo dia precisamos comer comidas diferentes, num idioma diverso com temperos variados. Às vezes é muito bom, às vezes é muito ruim. Sinto falta de comer pizza, a melhor pizza do mundo que se encontra numa pizzaria não tão longe da minha casa. Não estou de brincadeira, é a melhor pizza disparada. Todos amigos que me visitam, eu levo nessa pizzaria, inclusive um blogueiro “Poeta Investidor” que estava de passagem pela minha cidade, fiz questão de levá-lo lá e foi bem legal.
Melhor pizza do mundo. Metade Série ao fundo, metade melhor da série. Que delícia. Pagaria uma bela grana para poder comer essa pizza estando onde estou. Aliás, qualquer pizza como essa em qualquer país do mundo é certeza de empreendimento de sucesso. Já passou pela minha cabeça a ideia de montar algo como isso nos EUA - Califórnia ou Austrália.
Carro. Eu não sou aficcionado por carro. Tinha um I30 e achava extremamente confortável. Câmbio automático, banco de couro, carro extremamente silencioso. Eu como viajava bastante a trabalho, sentia que era bem seguro. Para onde eu fosse, poderia ir de carro de forma bem confortável. Hoje, pego transportes apertados. Tenho muitas vezes que carregar uma mochila relativamente pesada para procurar uma acomodação, já que não tenho transporte. Toda hora precisamos andar de scooter, ou negociar duro com motorista de táxi ou Tuk-Tuk, para conhecermos o lugar.
Mesmo vivendo extremamente confortável, numa grande “zona de conforto” portanto, resolvi temporariamente largar tudo isso e trocar por quartos simples, às vezes apertados, às vezes mal-iluminados, comidas não tão saborosas e gostosas, transportes lentos e apertados, e isso, ao contrário de ser uma experiência terrível, está me fazendo muito bem mesmo, pois está me possibilitando ampliar ainda mais a minha visão desse lindo mundo e de certa forma sobre mim mesmo.
Ah, o trabalho. Minha maior zona de (des)conforto. Não foi difícil vender o carro, deixar o meu apartamento ou os quitutes da nossa culinária. Agora, estou prestes a tomar uma grande decisão. O meu trabalho é estável, bem remunerado, não tenho chefe (não no sentido de hierarquia de alguém determinando algo), posso fazer home office, não tenho horário. É o trabalho dos sonhos para muitos brasileiros. Porém, não sou satisfeito com aquilo que faço. Posso continuar no mesmo cargo, e com o patrimônio acumulado que possuo, ter uma vida para lá de segura financeiramente, sem se preocupar muito com yield, margem de segurança, juros reais, etc. Nomenclaturas que farão parte da minha vida de forma mais consistente acaso opte por um outro caminho. Será que vale a pena? Será que não vale a pena? Até que ponto essa segurança financeira vale a não-satisfação? Jobs já disse no seu cérebro discurso de que "todos nós estamos nus". Eu estou 95% decidido, mas, como sempre fui uma pessoa conservadora e não sou genial como Steve Jobs, tenho os meus receios. Espero ter coragem e sabedoria suficiente para decidir se vale a pena desafiar essa zona de conforto, que na verdade para mim nos últimos anos mais se assemelhou a uma zona de desconforto.
Por outro lado, é preciso ter equilíbrio. Estamos, eu e minha companheira, sentido falta de um certo conforto na estadia. Por isso, resolvi tonar a viagem um pouco mais lenta, algo também conhecido como Slow Travel, e devo alugar um apartamento pelo Airbnb em Bangkok por umas três semanas. Recarregar as energias, escrever bastante (estou pensando em escrever um livro sobre viagem e outro sobre leilão), vivenciar mais uma incrível cidade da Ásia e se preparar para o caminho por terra até a Rússia.
Ache o seu ponto de equilíbrio, prezados leitores. É sempre bom desafiar-nos nas mais variadas esferas de nossa vida. É bom também termos um porto seguro. Agora, não se acostume com uma zona que não é de conforto, mas sim de desconforto. Não vale a pena. O mundo é amplo demais e a vida curta demais para sentirmos medo de mudar, e esse conselho vale para mim mesmo também.
Grande abraço e se não escrever mais nada, um bom natal a todos!
sábado, 19 de dezembro de 2015
BLOGUEIRO MILIONÁRIO, IMÓVEIS, RISCOS E ALEGRIA PELOS OUTROS
Olá, colegas. Este artigo provavelmente será uma miscelânea. Eu escrevi vários esboços de textos, pois há tantos assuntos, mas resolvi comentar um pouco sobre o blog conhecido como Pobre Catarrento. Tenho descansado nos últimos dias e está sendo bem aprazível. Estou numa ilha não tão conhecida da Tailândia (Koh Lipe), e aqui é uma maravilha. Uma das ilhas mais bacanas que já estive. Tem bastante gente, mas nem de longe se compara as ilhas mais famosas de Krabi, Pukhet, Koh Phi Phi, Ko Samui e Ko Tao (já tive a oportunidade de visitar todas em outras viagens). Além do mais, o lugar é lindo, muito bonito mesmo. Assim, estou bem relaxado para escrever e irei fazê-lo por tópicos. Aliás, se um dia quiser viajar para um lugar e trazer sua família, com segurança, água mais cristalina que você já viu, preços baratos-razoáveis (é um pouco mais caro do que o resto da Tailândia), uma cultura lindíssima e um povo extremamente educado, que diferença para a gente, venha para Koh Lipe.
Koh Lipe de dia...
Koh lipe no entardecer...
Nós, a praia, o barco e o macaco...
Essa preciosidade fica perto da Malásia. Estávamos na bela ilha de Langkawi na Malásia e resolvemos ir para a espetacular Lipe (fico feliz que tomei essa decisão).
UM BELO COMENTÁRIO
O colega PC fez um artigo dizendo que passou a marca de 1M em patrimônio (a-vez-do-milionario-sr-catarro). Como número em si, isso não quer dizer nada. Assim como dizer que esteve em 100 países. São apenas números. Porém, é inegável que certos números exercem fascínio nas pessoas e funcionam como importantes barreiras psicológicas. Assim é o ser humano. Logo, em matéria de finanças pessoais, entrar na barreira dos sete dígitos é visto como uma grande conquista, e não deixa de ser, e isso com certeza é positivo para auto-estima. Portanto, fico contente que um colega tão simpático tenha atingido essa marca.
Pelo dinheiro que fico contente? Não, colegas. Eu nunca dei, não dou, e possivelmente nunca darei importância demasiada ao dinheiro, principalmente como forma de sucesso humano (se quiser conferir já escrevi a respeiro sucesso financeiro não é sinônimo de sucesso humano), ou o que é pior e muitas pessoas fazem, como uma forma de julgar se uma pessoa é melhor do que a outra. Eu não faço a mínima ideia de quando quebrei a barreira mencionada, se foi em 2007, 2008, isso não importa para mim. Porém, o caminho sim é importante. Para se acumular uma determinada quantia, na esmagadora maioria dos casos, é preciso economizar, é preciso abrir mão de algumas coisas, e quanto menos se tem de início, o “sacrifício” exigido costuma ser maior. Assim como, e eu já cometi esse erro e percebo como fui tolo, o simples fato de visitar países não quer dizer nada. O que importa é o caminho que uma viagem pode fornecer, como a possibilidade de ver culturas, formas de ver a vida diferente, fazer amigos, perder o chão, perder o fôlego, etc. Se isso for feito em vários países é uma consequência, não é o objetivo. Logo, fico feliz pelo blogueiro, pois ele está concretizando os seus objetivos financeiros, e isso me deixa feliz.
Por qual motivo me deixaria feliz? Há um conceito na parte mística do Judaísmo, também conhecida como Cabala, que uma das grandes virtudes que um ser humano pode ter é “comprazer-se com o prazer do outro”. Há um nome em hebreu para isso, mas eu esqueci. O que quer dizer? Basicamente, é ficar feliz com a satisfação do outro. Na nossa sociedade hoje em dia, é difícil realmente ficarmos felizes com o sucesso de outros. Talvez sentimos que poderíamos ser nós no lugar. É um sentimento ruim, mas quem já não sentiu isso em alguma medida? Agora, quando realmente conseguimos ficar felizes com o sucesso dos outros, que sentimento maravilhoso! Nos sentimos leves e genuinamente felizes. Creio que evolui muito nesse aspecto nos últimos anos, e sinceramente era um dos meus objetivos enquanto ser humano.
Logo, até mais do que a conquista pessoal do colega, eu fiquei feliz com o seguinte comentário feito por outro colega com Nick “Acumular Patrimônio”:
"Clap Clap Clap
PC, não tenho palavras para descrever o quanto fiquei feliz com esse post. Eu cheguei a abrir uma cerveja aqui e brindar em sua homenagem. Sério!"
Eu achei fantástico o comentário. Um belo exemplo da aplicação da sabedoria mística judaica. Muito provavelmente os dois não se conhecem, assim um desconhecido ficou genuinamente feliz com a conquista de outra pessoa. Isso, meus amigos, para além do dinheiro, é qualidade de vida. É uma vida mais fácil de ser vivida. Imaginem se nos sentíssemos mais assim em relação a outras pessoas, e não apenas ao nosso círculo mais íntimo? Como o nosso mundo não seria diferente? Como não seria mais prazeroso nosso dia a dia. Isso nenhum modelo econômico pode captar. Isso não se pode ensinar, e pode parecer obtuso e sem sentido para alguns, mas apenas sentir. E isso para mim é, depois de que resguardado um mínimo para uma vida material digna, o que nos faz realmente feliz na vida. Como as pessoas deixam se enganar e iludir que viajar de avião de primeira classe, ou andar num carro de luxo, é o que trará satisfação para elas a longo prazo? Eu sei o motivo, mas deixo para uma outra oportunidade esse tema.
LIQUIDEZ
Eu avisei no começo que este post serIa uma miscelânea. Quando escrevi brevemente sobre Renda Fixa nesse artigo (breve guia sobre as classes de ativo) falei que existem três principais prêmios nessa classe de ativo: crédito (Credit Risk Premium), duration (Bond Risk Premium) e liiquidez . Tratei dos dois primeiros, mas não falei do último.
Colegas, a falta de liquidez é um fator de risco. Ele deve ser remunerado, assim como o fator de risco crédito. Isso tudo é intuitivo, e qualquer livro sobre renda fixa irá abordar com mais profundidade a respeito. O nosso amigo PC já sentiu na pele o risco que é a ausência de liquidez, conforme ele relata nesse artigo aqui , onde ele teve que encarar um prejuízo de 35k para não deixar passar uma oportunidade.
Amigos, há vários motivos para se ter dinheiro em alguma espécie de ativo líquido que não esteja sujeito a grandes flutuações e o artigo do PC é um exemplo prático. No Blog do Tetzner, eu sempre chamava atenção a este fato para vários colegas que não viam problemas numa estratégia 100% numa espécie de ativo. Porém, como explicar, que as pessoas podem deixar oportunidades passarem se não tiverem liquidez?
O colega blogueiro agiu. Assumiu um prejuízo de 35k, pois no entendimento dele a oportunidade de negócio que ele poderia perder possui potencialmente espaço para retornar muito mais do que 35 mil reais (se não a conduta seria irracional do ponto de vista financeiro). Além de mostrar coragem de assumir o erro e encarar o prejuízo, tal conduta mostrou o apetite necessário para se assumir riscos para ter retornos maiores (o negócio já parte de um prejuízo de 35 mil reais).
Porém, não é apenas em relação a dinheiro. E se alguém conhecer uma Norueguesa numa viagem e resolver largar tudo e montar uma pousada no nordeste. Será que a pessoa seguiria o projeto se estivesse 100% em ações num período de grande bear market? Será que a pessoa entraria de sócio num empreendimento promissor se tivesse que realizar prejuízos de 100 mil, por exemplo, devido à falta de liquidez? Percebam que os exemplos podem ser muitos. Liquidez é sinônimo de facilidade de estar pronto para oportunidades, sejam elas financeiras ou não.
É simples. Eu tenho um rendimento de 93% do CDI em LCA do BB, onde reservo minhas aplicações em renda fixa. É um bom rendimento tendo em vista ser um instrumento líquido e de um banco de primeira linha. Isso dá uns 13% aa. Se eu conseguir um outro título de dívida, mais com iliquidez por 3 anos por exemplo, me pagando 108% líquido do CDI, o que não é fácil, isso daria algo em torno de 2% aa a mais. Logo, para cada 1M ilíquido, apenas para título de exemplo, eu seria teoricamente pago R$ 20.000,00 a mais por ano. Ao longo de três anos isso daria aproximadamente R$ 60.000,00.
O que isso quer dizer? Que estaria abrindo mão de qualquer oportunidade que aparecesse para mim até o valor de 1M por três anos pela quantia de R$60.000,00 (ou R$ 6.000,00 para cada R$ 100.000,00). Vale a pena, não vale a pena? Cada um deve sopesar, mas a ausência de liquidez pode nos fazer deixar de ganhar dinheiro ou simplesmente ser um obstáculo a mais na realização de outros objetivos.
RISCO, MERCADO FINANCEIRO E IMÓVEIS
No mesmo artigo que escreve sobre a quebra da barreira psicológica de 1M, o PC fala que conseguiu um retorno alto com imóveis. Imóveis são ilíquidos. Pela ausência de liquidez, e portanto de precificação imediata, as pessoas acreditam que são investimentos mais seguros ou que seriam diferentes de ativos atrelados a imóveis como FII. Nem uma coisa, nem outra.
Eu, em minhas transações imobiliárias vou em direção à iliquidez. Contraditório? Não, colegas. No ramo imobiliário bem específico que gosto de atuar, a realidade é que quanto mais líquido for um imóvel (pense num belo apartamento, num belo bairro), mais concorrido é o leilão, e menor é a margem. Quanto maior a falta de liquidez, as margens, quando os diversos outros requisitos se fazem presentes para uma arrematação segura, tendem a ser muito maiores.
Eu adoraria comprar apartamentos desocupados com uma margem grande com mais frequência (felizmente, foi o que ocorreu há alguns meses. Nunca imaginei que isso iria acontecer, ainda mais um apartamento a poucas quadras da minha casa. Sinal de crise, e de que as pessoas estão sem liquidez? Talvez, se for o caso, em que pese a crise, vou me carregar de operações simples como esta), mas é difícil. Logo, a solução que encontrei foi ir em direção à iliquidez. Mas não é para ganhar 2% aa a mais, e sim 30-40%. Houve um caso que o retorno foi de 100% em um ano. Essa é uma iliquidez, em minha opinião, que vale a pena se expor.
Isso vem do céu? É fácil? Claro que não. Primeiramente, como bem notado pelo Pobre Catarrento, é preciso correr riscos e sair do pensamento tradicional. No caso específico de imóveis, é preciso um certo acúmulo de capital prévio, seja para construir pequenas casas, seja para fazer prédios, seja para comprar à vista em leilões. Além do mais, cada área terá suas dificuldades, riscos e expertises. A que eu atuo, se feita uma boa análise dos riscos jurídicos-processuais (o que demanda treinamento específico e conhecimento técnico), é a mais sem risco. Já pensei em construir. Aliás, minha família construiu alguns empreendimentos. Meu pai resolveu construir um prédio de 10 andares em 1996-1997. Queria fazer algo produtivo num período difícil do país. Até hoje, quase 20 anos depois, meu pai tem alguns casos na Justiça cobrando dinheiro pela venda de algumas unidades. Sem contar que um amigo do meu pai da ordem, o meu pai já foi mestre Rosacruz, que estava junto no empreendimento deu um desfalque de grande monta. Até hoje ele ainda não pagou o que deve, o meu pai diz que isso pertence aos herdeiros (nas diversas vezes que toquei no assunto por qual motivo ele não o processou ainda), mas sempre o alerto sobre o prazo prescricional. Enfim, se o meu pai tivesse ficando numa simples renda fixa, na época de juros estratosféricos, talvez esse prédio pudessem hoje em dia a equivaler a uns 8 prédios.
Sendo assim, construir possui riscos. A margem tradicional é na faixa de 40-50% para dois-três anos (basta ver a margem bruta da Eztec), e se tem risco de obra, risco de inadimplência, burocracia, risco de acidente, etc. Posso conseguir margens semelhantes em um terço do tempo, logo a ideia de construir não passa mais pela minha cabeça. Porém, é um ramo que pode dar ótimos retornos, principalmente se feito com profissionalismo e cuidado.
Evidentemente, não é sempre que se pode transformar um imóvel em dois imóveis em apenas um ano. Consegui uma vez. Tenho outro que talvez possa ser assim. É difícil, mas eu preciso de uma operação dessas a cada 3-4 anos para pagar minhas despesas do período. Logo, posso ter calma, mas quando aparece a oportunidade tenho que estar líquido e preparado.
Eu não conseguiria nada disso no mercado financeiro. Isso ficou muito claro para mim. O mercado financeiro serve sim para multiplicar o patrimônio, mas em períodos longos de tempo, como já refleti nesse artigo (crescer ou manter o patrimônio? Um crescimento de 6% real ao ano, multiplica por 8 o capital em aproximadamente 36 anos, o período de uma geração. Evidentemente, isso é multiplicar o capital e foi assim que países ricos ficaram ricos, um acúmulo constante, longo e gradual de capital. Esse mesmo processo pode acontecer entre gerações. Entretanto, é um processo lento, e é necessário visão de muito longo prazo, algo cada vez mais em falta numa sociedade apressada e em pessoas impacientes.
Se a pessoa quer retornos maiores, a possibilidade de fazer grandes aportes, terá que se arriscar em negócios “no mundo real”, seja com imóveis, seja comprando e vendendo empresas, abrindo franquias, exportando e importando, etc, etc. É claro que é possível prosperar rapidamente com o mercado financeiro, é apenas improvável, e mais improvável ainda para investidores amadores.
Termino esse artigo, parabenizando o colega PC pelo caminho transcorrido. Porém, o que mais chama a minha atenção é a educação e simpatia do mesmo, não o seu patrimônio. Entretanto, sei o quanto é importante para ele, e como isso demonstra que os seus esforços estão sendo recompensados. Parabenizo também o colega que fez o comentário, oxalá esse tipo de postura fosse mais incentivada em nossa sociedade. Criticamos demais, apontamos os defeitos em outras pessoas demais, e isso não é sinal de uma sociedade equilibrada. Eu espero sinceramente que todos atinjam os seus objetivos. “Até mesmo para pessoas que não gostam de você, ou eventualmente te ofenderam?", sim até para essas pessoas. Posso não querer ser amigos delas (apesar de não ter nenhuma objeção em ser amigo), mas nunca desejo o mal. Além do mais, é muito melhor conviver com pessoas felizes porque conseguiram algo que as faça felizes, do que com pessoas frustradas e rancorosas. Desejo sucesso e sorte para todos.
Não se esqueçam que lliquidez tem o seu preço, e que na vida é preciso arriscar de vez em quando, é preciso ter aquele friozinho na barriga, aliás qual a graça seria se não sentíssemos mais aquela sensação de apreensão, esperança, receio, otimismo? Às vezes é isso que nos leva para frente, a darmos passos financeiros maiores, ou, num nível mais profundo, a entendermos a realidade de uma maneira mais ampla.
Abraço a todos!
Assinar:
Postagens
(
Atom
)
Marcadores
search this website
email updates
Like us on facebook
Quem sou eu
- soulsurfer
- Mais um ser humano em busca de sentido. Uma jornada repetida por bilhões de outros humanos ao longo das eras. Escrevo aqui sobre finanças, viagens e algumas pequenas reflexões sobre os mais variados temas.
Tecnologia do Blogger.
Popular Posts
-
Olá, colegas! Espero que estejam todos bem. Minha estada na Tailândia que deveria durar duas semanas já passa de um mês e ainda devo fic...
-
Olá, colegas. Espero que estejam todos bem. Escrevo nesse artigo sobre a nossa zona de conforto. O que é isso? Muitos já devem ter ouv...
-
Olá, colegas. Este artigo provavelmente será uma miscelânea. Eu escrevi vários esboços de textos, pois há tantos assuntos, mas resolvi c...
-
Olá, colegas! Antes de mais nada, desejo um bom ano novo para todos. Eu, sinceramente, não me impressiono tanto com esse tipo de data. O ...
-
Olá, colegas. Depois de uma série de artigos sobre viagens, volto a escrever sobre finanças. O tema desse artigo creio ser do interesse ...
-
Olá, colegas. Hoje escrevo algumas reflexões a respeito de temas variados em finanças pessoais. NÃO GIRE PATRIMÔNIO SEM SABER AO CERTO ...
-
Olá, colegas! Os últimos oito dias no deserto foram simplesmente sensacionais. Aconteceu tanta coisa boa que poderia escrever páginas e pá...
-
Olá, colegas. Iria escrever sobre refugiados nesse artigo, mas resolvi mudar o tema. Como tenho um certo tempo aqui no aeroporto, gostaria ...
-
Olá colegas! Hoje o tema do artigo será bem leve e curto, já que pretendo escrever sobre temas mais densos nas próximas postagens. Aliás, ...
-
Olá, colegas. Fiquei hoje 9 horas dentro de um cruzeiro para voltar ao Melbourne saindo da Tasmânia. Isso me deu tempo para a...
© BLOG DO SOUL 2013 . Powered by Bootstrap , Blogger templates and RWD Testing Tool