quarta-feira, 18 de novembro de 2015
INDONÉSIA - MENTAWAI: OBRIGADO!
Olá, colegas. É difícil explicar como me sinto. Aliás, talvez seja bem fácil. Sinto-me realizado e feliz. Há uma grande diferença, apesar de não ser muito compreendida e discutida em nossa sociedade apressada, entre estar e ser feliz. Estar feliz é um sentimento associado à satisfação momentânea de algum desejo humano. Comprou um carro novo? Talvez isso faça o adquirente feliz. Conquistou uma garota(o) bonita(o) em alguma festa de fim de ano? Isso pode trazer uma grande sensação de bem-estar. Entretanto, pelo menos entre os pensadores que refletem sobre o tema, essas satisfações momentâneas não parecem nos trazer uma felicidade mais duradoura. Aqui entra o conceito de ser feliz.
Ter uma existência feliz e satisfeita diz respeito a um sentimento mais profundo. Diz respeito a como nos sentimentos em relação à vida e a outros seres humanos. Muito dificilmente essa nossa percepção mais densa sobre nós mesmos vai ser muito influenciada pelos nossos episódios momentâneos de felicidade. É difícil colocar em palavras algo como isso, mas ser feliz é aquela sensação de bem-estar resultante de uma vida bem vivida. Uma vida bem vivida geralmente está associada com a forma que nós interagimos com os seres humanos mais próximos da gente, e como nos sentimentos em relação ao rumo de nossas próprias vidas. É importante sentir-se feliz, mas com certeza se conseguirmos ser felizes a sensação de bem-estar é muito mais intensa e duradoura.
Mentawai me fez estar feliz. Entretanto, mais do que isso, creio que atingi um estado de ser feliz nessas duas semanas. É claro, e isso poderia contradizer o que eu escrevi nos primeiros parágrafos, minha sensação de felicidade na vida não pode ser resultado de 15 dias numa ilha. É verdade. Porém, essas duas semanas fizeram-me sentir muito bem comigo mesmo, não que eu já não estivesse, e com a vida. Estou bem contente mesmo.
Como não ficar feliz?
O Surfe é algo que eu amo. Como peguei onda nessas semanas. Estive pensando que nesses meus 45-50 dias pela Indonésia , principalmente nos últimos 15 dias, talvez eu tenha surfado mais ondas boas do que nos meus últimos 8-10 anos no Brasil. Obviamente, não sabemos quais os caminhos a vida nos reserva, mas por mim eu voltaria várias e várias vezes para esse destino tão especial.
Indo para Mentawai num barco bem pequeno, tentando descansar. Foram mais de duas horas onde eu e Sra. Soulsurfer, e todas as nossas roupas, ficaram completamente encharcadas. Sorte que não estragou o computador.
A recompensa não vem sem os potenciais riscos como aludi no meu artigo sobre Lakey Peak. Machuquei-me com um pouco mais de gravidade, pois atingi a bancada de coral com força. Abri um talo na minha mão, cortes no braço e nas costas. Ao chegar no surf camp, todos os lugares que eu ia surfar precisava pegar um barco, apenas disse para a minha companheira que tinha me machucado um pouco mais sério, e o meu braço estava escorrendo bastante sangue. Isso foi há uns oito dias. Felizmente, foi apenas um susto, e os ferimentos já estão melhorando, inclusive o corte mais profundo na mão.
As pessoas que conheci fizeram a experiência ser ainda mais incrível. Joe “pretty hair” (como eu o apelidei), um surfista local, surfava comigo todos os dias, sempre me incentivando e ajudando. Suu, o barqueiro, sempre sorrindo e falando “go go!” quando algum set com ondas vislumbrava-se no horizonte. Iin, o fotógrafo que capturou em vídeos e fotos meus momentos de alegria nas ondas. Diego, o dono do surf camp. Um colombiano que foi para Austrália, deu certo lá, trabalhava com trading de commodities em Sydney, mas resolveu abandonar essa vida dos “sonhos" para muitos latinos americanos, engravidou uma Indonesiana (Laura, uma mulher de fibra que fez pizzas maravilhosas para a gente.Muito bom matar a saudade de uma pizza boa, algo que adoro comer no Brasil) e hoje possui uma vida devotada para o surfe. Ou a família espetacular de Australianos (ah, coisa boa ter um lugar para ficar na mítica Margaret River, quando voltar para Austrália para fazer a não tão conhecida West Coast) Paul, Adeile e o pequeno Nat. Este, um garoto de nove anos que pega altas ondas. Nove anos! Já tem patrocínio a jovem promessa. Super educado, extremamente gentil e numa felicidade extrema de estar surfando na Indonésia. O pai então era uma alegria só. Também pudera, imagina surfar ondas perfeitas ao lado do seu filho de nove anos. Deve ser uma sensação muito boa mesmo. Vai que o pequeno Nat se transforme no próximo Fanning ou Medina, para garantir tirei algumas fotos com ele! Fora todos os outros locais sempre sorrindo e sendo prestativos. Ah, ainda tinha o cachorro, Shagy, que era uma figura. Caçava caranguejos no mangue, ia junto no barco para o surfe (numa vez ele chegou a pular do barco e ir nadando até onde as ondas estavam quebrando, quando todo mundo começou a gritar para ele voltar) e quando pegava a sua mão de brincadeira não soltava mais.
Uma típica manhã em Mentawai. Indo para o surfe às 8 da manhã para voltar às duas da tarde, quando o mar estava bom. Dias incríveis.
Depois de uma sessão de surf bem bacana num break chamado 4bobs, fomos descontrair nessa lindíssima ilha (eu, minha companheira, o dono do camp, seu filho dando cambalhota no ar e a família de australianos)
Shagy, um dos cachorros mais figuras que já conheci.
A família Aussie. Uma pena que convivemos apenas quatro dias. Todos eram muito legais. O pequeno Nat pegava altas, era extremamente educado e parecia ser uma criança super feliz. Nossa, deve ser demais ter uma experiência dessa com um filho. Quem sabe um dia..
Iin, o Fotógrafo. Gente boníssima. Ao fundo, Suu, figuraça. Divertia um monte com ele dentro da água surfando.
Família Mentawai. Ao centro, Diego, um colombiano que tinha um escritório com vista apenas para o Opera House em Sydney. Largou essa vida, apesar de já ter passaporte australiano, para viver uma vida diferente. Ele me disse que ao se fixar em Sydney realizava o sonho de muitos latinos. Ao morar em Mentawai, realizava o sonho de muitos australianos.
E as ondas? E as ondas…Surfei sete lugares diferentes com níveis de dificuldade diferentes. Com certeza evolui e muito o meu surf. inúmeras vezes surfei com pouquíssimas pessoas na água, ondas incrivelmente boas. Água quente. Isso é o sonho para qualquer surfista brasileiro, e os beach breaks inconsistentes, ondas curtas e várias pessoas na água com níveis grandes de stress algumas vezes. Foi um sonho. Os meus melhores dias surfando, um dos highlights não só dessa viagem, mas como de todas as viagens.
Mandado ver em Beng Bengs...
Na esquerda divertida de Good Times, que dia foi esse....
Beng Bengs, surfei umas 10 vezes nesse lugar. Esse dia foi especial, eu e mais uns dois surfistas na água, um sunset espetacular e ondas incríveis.
Na direita de Nipussy. Foi nesse local que fui fazer uma visita mais próxima a bancada de coral.
Escrevo esse artigo com a Sra. Soulsurfer dormindo nos bancos ao lado num fast ferry de volta para a cidade de Padang na ilha de Sumatra. Tenho algumas horas de viagem. Daqui alguns instantes muito provavelmente um filme de luta chinês com legendas em Bahasa irá passar na televisão que se encontra na minha frente. Despedi das minhas duas companheiras, minhas duas pranchas que me acompanharam desde o Brasil. Como viajaram. Pela terra do Sr. dos Anéis na Nova Zelândia, pelas ondas difíceis e pesadas de Fiji, pelos quase 20 mil Km do “continente" Australiano, e pelas mais diversas ilhas da Indonésia. Meus próximos meses, quantos serão não tenho a menor ideia, serão sem surfe pelo continente asiático e não teria motivos carregar o trambolhão que é o meu surf bag. Assim, vendi tudo. Sou um surfista sem prancha. Não importa, quando chegar a hora compro outras. Agradeço a essas minhas duas companheiras pelos momentos de felicidade compartilhados em vários surf breaks pelo mundo. Vida que segue.
Obrigado, Mentawai. Obrigado pelas suas ondas maravilhosas, por me fazer feliz. Para onde vou agora? Não sei. Quando chegar em Padang, irei decidir se amanhã vou para Malásia, ou se continuo mais uma semana em Sumatra para tentar ver orangotangos mais ao norte. Espero que ainda ache voos com preços bons, mesmo estando em cima da hora. O meu único plano é estar na Mongólia daqui 4-5 meses.
Ah, peço desculpas aos colegas que postaram alguns comentários não respondidos. A internet era realmente muito lenta. Vou tentar responder a todos, pois acho que o acesso a WI FI será mais fácil daqui para frente.
Grande abraço a todos!
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Sô manda bem nas ondas...
ResponderExcluirQuem me dera, UB...
ExcluirInspirador. Nunca estive por aí mas muitos amigos já e todos saem com essa sensação que você saiu. Inclusive tem um deles até que se mudou para o Botik Resort (não sei se você chegou a conhecer). Com a nossa economia atual, conflitos na Europa e Oriente Medio, acho que você escolheu o melhor momento - por mais casual que possa ter sido - para seguir seu sonho de viajar. Continue postando e nos inspirando. Forte abraço. Chaps
ResponderExcluirOlá, Renato!
ExcluirNão conheço, e nem ouvi falar. Fica em Mentawai?
O mundo sempre foi palco de conflitos variados, por incrível que pareça temos muito menos violência hoje em dia do que séculos atrás, mas realmente é bom se manter um pouco afastado de vez em quando.
Obrigado pelas palavras!
Abraço!
Rapaz, isso que é vida!!! Ver a natureza, ver o pôr do sol, conviver com gente bacana na maior parte do tempo.
ResponderExcluirNós investidores podemos aproveitar alguns momentos e até alguns anos de lazer e surf longe do stress, e da falta de civilidade atuais.
Seus relatos me inspiram na IF na distância do serviço público, na melhora como ser humano.
Abs
Carioca
p.s. e os aéreos???? Tem treinado???
Olá, Carioca.
ExcluirValeu.
Não, não tenho habilidade para fazer aéreos:)
Abraço!
Que inveja!!! Queria eu...
ResponderExcluirOlá, colega.
ResponderExcluirTenho certeza que sempre podemos achar algo para fazer que nos inspire, espero que você tenha algo ou encontre algo.
Abraço!